BRAVIO - Associação Brasiliense de Violão

Notícias sobre o violão de concerto em Brasília

Viver um momento da história

A palestra

Este encontro da Bravio foi uma verdadeira viagem no tempo. Com a presença do violonista e alaudista Fernando Dell'Isola, o encontro iniciou-se com uma rica e interessantíssima palestra sobre a música e os instrumentos da época barroca e renascentista.

Sempre deixando todos muito à vontade para questionamentos e dúvidas, Fernando foi explicando o que se tem de registro da história do alaúde, desde os países asiáticos, até sua chegada na europa, que fez o instrumento não só mudar um pouco sua forma original, recebendo mais cordas e se tranformando na teorba, como as modificações técnicas que foram ocorrendo com o instrumento para melhor se adaptar ao repertório europeu daquele tempo (por volta do século XV). Inicialmente o alaúde era tocado com o uso de palheta. Mas, para suportar o caráter polifônico das obras compostas nesta época, descartou-se a palheta e iniciou-se o uso do dedão e do indicador em forma de figueta.

Com a extrema preocupação de deixar clara a mensagem musical, as interpretações das músicas do período barroco e renascentista exigiam extrema fidelidade com conceitos de acentuação rítmica. E esta é uma das particularidades do alaúde e da teorba, pois em ambos os instrumentos, era de praxe a regra de se atacar com o dedão a nota forte do compasso e, nas notas fracas, o uso do indicador. Apesar de parecer uma pequena diferença, esta forma sitemática de se tocar o instrumento gera uma clareza rítmica que pouco é possível replicar com as técnicas atuais do violão.

Outro ponto de extrema riqueza e aprendizado durante a palestra foi a apresentações das sete ornamentações musicais utilizadas neste período: nota de passagem, bordadura, apojatura, suspensão, nota de enriquecimento, escapada e nota pedal. Utilizando como exemplo obras de Luís de Milan, Fernando estimulou a todos a identificarem esses ornamentos. Ao final, após um interessante debate, todos começaram a perceber que os ornamentos atuais (grupetos, trinados, etc) nada mais são do que combinações destas peças já criadas há bastante tempo atrás.

Um trabalho de reconstrução de um passado. Uma incessante busca de reproduzir as músicas que Bach, Dowland, Weiss e contemporâneos tocavam em suas épocas. Dado que pouco registro se tem destes tempos remotos e, certamente, nenhum registro fonográfico, é realmente um trabalho de se tirar o chapéu!

O Sarau.

Ainda com o envolvimento gerado pela abertura de um novo (ou perdido) horizonte gerado pela palestra do Fernando, inicou-se mais um Sarau da Bravio. Como sempre, o Sarau traz a todos uma alegria imensa. Este, em particular, apresentou uma riqueza ímpar pois se apresentaram estudantes, universitários, amadores, profissionais, arranjadores e amantes do violão. O clima de apoio incondicional ao ato de tocar norteou o sarau do seu início ao seu fim.

O primeiro a se apresentar foi o estudante Wendel, executando os estudos 1 e 2 dos "Estudos Sencillios" de Leo Brower. Após Wendel, o professor Maurízio Martins mais uma vez se apresentou no Sarau da Bravio, fazendo com que sua interpretação do estudo 6 dos "Estudos Sencillos" de Leo Brower desse continuidade a atmosfera gerada pela apresentação de Wendel. Augusto Mendonça deu continuidade ao Sarau apresentando os estudos 5 e 6 de Matteo Carcassi. Regis, ainda com poucos meses de estudo, apresentou um arranjo do Minueto do Caderno de Anna Magdalenna Bach. Em seguida, Pedro apresentou as peças Rosita e Jorge do Fusa. Wagner Rodrigues inicia sua apresentação com a interpretação de Cavatina de Stanley Myers e, sem deixar nada há desejar, apresenta um belíssimo arranjo de sua autoria da música Carnalismo, dos Tribalistas. Geraldo Nascimento, pego de surpresa, sobe ao "palco" e, de forma extraordinária e despretensiosa, executa as peças Sons de Carrilhões, de João Pernambuco, Ponteado e Romançario de Antônio Madureira. Ao final do sarau, o violonista Alvaro Henrique fecha com chave de ouro o evento com a brilhante execução do 3 o movimento da Sonata para Violão de César Guerra-Peixe e Estudo 11 de Heitor Villa-Lobos. Após as atividades, um lanche fez companhia ao bate-papo que aconteceu entre todos.

O Recital de Fernando Dell'Isola.

Surpreendendo a todos, Fernando iniciou sua apresentação ainda fora do palco, deixando todos apenas com o som Alaúde. Entrando no palco, sempre carismático e cativante, Fernando apresentou na primeira parte peças renascentistas: Branles des Villages I, II e III de Robert Balard; Pavana Saltarello, Piva e Recercear, de J.A. Dalza; Ein Preambl, Danntz, Der Auf, Der Gestreifft, Der Gassenhauer, Mein Vleis, Ich Armes e Amy Sufre, todas estas de autores anônimos; 3 Fantasias de Francesco da Milano e Petite Fantaisie, Fantaisie, Passemeze I e II de Adrian Le Roy. Da mesmo forma que entrou no palco, Fernado saiu, com a mesma simpatia e tocando seu alaúde.

Na segunda parte do recital Fernando subiu ao palco não mais com seu alaúde, mas sim com sua Teorba. Fernando apresentou Canário, 5a Arpeggiata, de G.G Kapsberger; Tocatta XIII de Alessandro Piccinini; Ballo, 2a Arpeggiata, também de G.G Kapsberger e, ao final, Chiaconna de Alessandro Pieccinini.

Fernando não só conseguiu mostrar a beleza das obras, como também fazer juz aos pontos observados durante a palestra ministrada na parte da tarde deste dia. Ao final do recital, Maurízio externa a vontade de todos: gentilmente pede para Fernando falar um pouco sobre estes instrumentos que já foram extremamente difundidos há tempos atrás. Fernando termina sua apresentação fazendo uma rápida porêm proveitosa e interessante palestra sobre os instrumentos, sua história, repertório, etc.

Ele comentou que o alaúde chegou particamente a inexistência. Em 1920 foi iniciado um trabalho de resgate, que vem se extendendo até hoje. E foi justamente essa junção de forças, por diversas pessoas, de diversas épocas, como o Fernando está hoje em dia fazendo, que evitou que o vento levasse consigo mais uma parte de nossa história musical.

Texto: Augusto Mendonça

1 Comments:

At 4:45 PM, Anonymous Anônimo said...

Amigos, eu sou um fã incondicional de Kapsberger e fiquei admirado ao ler esse relato. Ainda não conheço o trabalho do Fernando Dell´Isola e gostaria de saber mais sobre locais de apresentação. Caso venha a Uberlândia, MG, com certeza eu estarei na primeira fila a prestigiar essa belíssima e rica performance. Muito sucesso ! Quem quiser falar comigo, será um prazer. Podem me adicionar no MSN : docetr@go.com
Abraços !

Marco

 

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